Abraços num Mundo em guerra
Não raras vezes, no decorrer do tempo, temos vindo a ser alertados pelos especialistas para a necessidade do autocuidado e dos riscos que enfrentamos e que podem desequilibrar a nossa Saúde Mental. Quem nos diz são as Organizações Mundial de Saúde, a Ordem dos Psicólogos Portugueses, as sociedades científicas, desde a Pediatria, passando pelas que cuidam das doenças de foro neurológico e terminando nas que validam tantos modelos que a Psicologia tem vindo a estudar e observar. Conto, entre estas, com as que me são mais próximas no dia a dia como a Sociedade Portuguesa de Psicodrama ou parte dos modelos da Terapia Familiar e Sistémica (SPTF). Na passada semana, a hipótese de olhar para o estado da Nação esteve ao cargo do VI Congresso Ibérico de Terapia Familiar e Sistémica, no Porto. Porém, e ao contrário do que se possa pensar, este reencontro entre terapeutas não foi apenas um debate ocorrido em salas privadas com temáticas claras acerca da nossa Saúde (ou doença) mental e física. Não, este Congresso foi marcado - em mim e em alguns - por sorrisos partilhados nos corredores, nas filas para o café ou para o almoço, nos convívios de final de noite e, logicamente, em momentos de pequenas devoluções de humanismo, firmadas por um abraço. Fui, assim, entre os outros tantos que procuram cuidar com a alma na mão, rumo ao Porto para partilhar projetos, conhecer os tantos que se distinguem, reunir grupos, amigos e terapeutas que guardamos em nós e dar muitos, muitos abraços! Fui, ainda e em particular, como "co-autora" de um artigo que aborda a ligação entre dois mundos que se encontram frente a frente nas cadeiras (como quando nos sentamos com o nosso paciente/terapeuta num espaço de um para um), o psicodrama e a terapia familiar e sistémica. Coloquei a ação, o corpo e a voz ao serviço de cada indivíduo dentro dos (seus) vários sistemas: família, trabalho, amigos, religião, desporto.... A Terapia Familiar e Sistémica não é a minha casa, e portanto, a hipótese de aprender com um meu "vizinho" é sempre um espaço feliz de partilha, e onde olho para dentro, e para parte da minha prática clínica.
Aprendi e recordei que:
- Amamos pouco, expressamos menos, ou talvez vivamos apenas equivocados sobre o modo como esta função básica de Ser pessoa deve acontecer;
- Sentimos medo, sentimo-nos vistos, observados, recolhemos dados dos outros... tudo em micro expressões que conectam ou repulsam;
- Temos medo de rir. Temos medo do ridículo. Temos medo de ser expostos e vulneráveis;
- Temos saudades de ser vistos;
- Temos saudades de quem partiu em nós;
- Não somos criativos, ou somos demasiadamente críticos para o poder ser;
- Achamos loucos os que se riem e os que recriam realidades nos seus tempos;
- Deixámos de contar histórias em locais onde a morte impera;
- Colamos tudo numa imagem que é formatada, igual, técnica, assertiva ou terapeuticamente ponderada;
- Medimos o risco do ridículo
Ser Terapeuta é ser Humano, antes de tudo mais: só aqui me posso encontrar em pleno com alguém, pelo não julgamento

Eu tenho a melhor profissão do mundo! Uma de entre as dos que ali encontrei! Pessoas giras, que se permitem a rir e a abraçar perante uma hipótese tola de reconexão... «E se... eu escrever uma frase que espalhe sorrisos?!?!?! O que é que eu vou encontrar? Por quanto tempo lembrar-nos-emos daquele dia, em que alguém passava num semáforo vermelho com uma frase: "Eu espalho Saúde Mental. Dás-me um Abraço?».
Pois bem, eu encontrei vida'S! E encontrei a loucura de simplesmente puder romper padrões pequenos em gestos que espero que se tornem maiores. Maiores na teoria, maiores na prática, maiores na hipótese de cuidar e na hipótese de amar. Maiores na hipótese de eu ser tão só e apenas Pessoa, com a história que é minha, tão mais rica quando em partilha com os outros. Eu sou Terapeuta! E sou Mãe, Amiga, Companheira, Triste, Ansiosa, Irritante, Sonhadora, Irritante, Vaidosa, Combatente, Curiosa, Não isenta (pago taxa por ser assim, verdade) :) Eu sou Espontaneidade, sou Retração ou Introspeção, sou Criatividade, sou Erro.
Sou, no final, Mulher, e HUMANO!
E tu também! Estou por aqui para ajudar sempre... onde me quiseres.
Vamos Lá! 🌻
