O doce lugar (de) ter papel
Acerca de poder ser

Hoje, trago comigo - e em mim - o lugar bonito onde me deixam crescer! Imaginem nascer naquele lugar que é cinzento, não tem cor, parece frio e amargo. Aquele lugar onde a vida fica demasiadamente turva, tão turva que é simples seguir uma maré de vergonha'S, medo'S, choro'S... Eu conheço lugares como esses. Lugares onde não podes exagerar, onde não podes ser cor de rosa e laranja (toda a gente sabe que não combinam). Lugares onde não rimos alto, lugares onde choramos baixo (ou não choramos de todo...), espaços onde se ergue a cabeça e se escondem as feridas ainda abertas. Ninguém nos pode ver! Ninguém te pode saber. Lugares onde não os há... as M., as K., as S. as R. e as V... Então, mas e se... E se à tua volta as pessoas te disserem que podes ser? Que podes até (imagina) ser o que tu quiseres e (escuta a magia) com quem quiseres? Tão só e apenas com quem tu quiseres escolher? Verdade... És tu quem decide o teu lugar, o teu cheiro, a tua pessoa, o teu som, a tua canção. Quem tu queres ser.
Deixo, acerca dos últimos trabalhos formativos, algumas impressões globais que me fazem ressignificar os espaços de cada um:
- O que não conhecemos tornamos em loucura;
- A loucura são os outros, não eu;
- Eu sou pleno: sou leal, retilíneo, coerente, organizado, metódico;
- A falha não me serve: não me medico, não me automedico, cuido da saúde física, sou social;
- Os outros têm falhas, comportam-se de forma esquisita, vestem-se de forma esquisita;
- Eu cuido-me e sei cuidar dos outros: sou bonito, alimento o meu ego, tenho espaço, existo!
- Os outros não são o meu sucesso, não terão o meu sucesso, são profundamente errantes;
...
- EU sou pleno. A loucura está nos outros. EU questiono. EU posso tudo. EU sou expetactiva!
Dos trabalhos a que, com muito amor e respeito, dedico o meu dia a dia encontro pela palavra agida do Psicodrama e do Sociodrama o escorregar para vidas e pessoas bonitas. Não tenho medo de nenhuma delas, antes uma admiração gigantesca por quem são, e o que me permitem a receber. Não são diferentes de mim, não tenho mais do que elas. O mesmo coração, os mesmos olhos, o mesmo caminho que precisa de ser cuidado. Que nunca deixem de gritar! Que nunca me façam parar de gritar convosco! E que saibam (de mim, terapeuta e pessoa) que sou louca! E que não almejo ser diferente, ser menos louca. A loucura cabe-me em demasia. Dá para encher salas com sorrisos e abraços. Por vezes enche salas de tristeza e lágrimas. Também as sabemos segurar.
